Obra vencedora e menções honrosas

A Bienal de Coruche traz-nos 10 instalações selecionadas para concurso, subordinadas ao tema “Respirar Arte com Sustentabilidade”. Todas elas podem ser visitadas entre os dias 18 de setembro e 5 de outubro, bem como vistas aqui. No dia da abertura do evento, 18 de setembro, foram distinguidas, pelo júri reunido para o efeito, a obra vencedora e as duas menções honrosas. Conheça agora as instalações reconhecidas, as respetivas descrições e o processo de decisão do Júri.

Obra vencedora

Underwater – Antonieta Martinho

A paisagem mais icónica de Coruche é, sem dúvida, o rio Sorraia e este ambiente ribeirinho é o enquadramento ideal para esta instalação, reportando-nos para o tempo em que o leito do rio era fértil em cardumes de variadas espécies de peixes e também ao facto das medusas serem dos organismos mais exóticos que existem. A instalação é composta por cardumes e medusas tridimensionais, produzidas com base no conceito da exposição. É integrada num ambiente que tem o rio Sorraia como cenário e o vento como matéria-prima que dará a estas peças uma ondulação natural. Constituída com cerca de 430 peixes e sete medusas, esta obra tem como principal material o copolyester, por ser eco friendly, leve, transparente, com brilho e maleável, sendo que os tentáculos das medusas terão como base o PET e botões transparentes para suspensão das peças com fio de pescador. São utilizadas técnicas de pintura apropriadas aos materiais e ferramentas específicas (pirógrafo, pistola de calor e outras) para criar volume, moldagem de formas, recortar, perfurar e construir as peças. O elemento “cor” das peças (azul) é representativo da preservação da vida aquática e a luz natural, incidindo no material transparente, permite um jogo de reflexos, de absorção e de difusão da luminosidade através das peças suspensas.

Menções honrosas

m+H – Margarida Esteves

Pensar no Ribatejo é pensar nas encenações do Cortejo Histórico e Etnográfico que se podem ver nas Festas da Nossa Senhora do Castelo, as manifestações no Dia do Campino, a afluência ao jardim de Coruche, a Feira de São Miguel e as atividades da vida agrícola do dia a dia em épocas bem diferentes da nossa. No entanto já aí se pode ver o conceito de “dar vida a materiais em fim de vida”: todas essas encenações contêm algo em comum, os taleigos, saquinhos de tecido reciclado que acompanhavam estas gentes com funções e tamanhos diversos (guardar moedas, feijões, merendas, lencinhos, entre outros). A instalação apresenta a recriação do taleigo tradicional com introdução de novas matérias, desta feita chapa de alumínio (latas de bebida), material improvável se tivermos em conta a sua inflexibilidade ou dureza. E com base na forma do taleigo/contemporâneo temos um conceito de objeto humanizado que engloba duas áreas de reciclagem – a natural e a industrial –, resultando assim numa forma decorativa que homenageia todos os recicladores.

Ambiente Suspenso – Tiago Margaça

Estas peças foram feitas para se entrelaçarem com o meio que as rodeiam e, em simultâneo, destacar-se, marcando uma distância do habitat em que se inserem. É uma instalação sincrónica, que cria por si uma realidade anacrónica relacionando-se com o tempo e por afinidade ao espaço. Esta ligação entre o artificial e o natural cria uma situação de “equívoco”, dando a sensação de algo estar errado. A ambiguidade para com o espaço causa uma sensação de estagnação temporal, ou suspensão. Assim, esta descontinuidade com o habitat cria de algum modo uma proximidade com o lugar circunscrito. Devido à forma orgânica que as peças têm, tornam-se numa reinterpretação do mundo natural, através de meios artificiais. A palavra reciclagem tem para mim um significado bem distante da Natureza, pois esta é simplesmente uma logística especializada em criar um ciclo de lixo. Tal como o vento, o sol, a lua, etc., têm os seus ciclos, o Homem criou o ciclo do lixo. Compreendo que mediante o sistema que temos é a solução rápida, que infelizmente transborda para uma problemática muito maior: a exacerbação logística de embalagens. A matéria usada no trabalho é arame e, na sua maioria, papel; o arame serve para delinear uma estrutura base, de onde surgirá todo o trabalho coberto pelo papel. O papel é um composto derivado das árvores; esta matéria orgânica transformada a partir da madeira em estado morto contrasta veementemente com as árvores, no entanto tem uma relação íntima com o vento que faz oscilar as árvores e as esculturas. Assim o movimento das esculturas simula a vida a partir da matéria inerte.

Argumentos do Júri

O Júri de Distinção foi composto por Mauro Pereira, Mónica Gonçalves, Sandrina Francisco, Susana Cruz e Xandi Kreuzeder e iremos então explicar o processo de seleção de distinção. Cada jurado teve acesso a toda a documentação enviada pelos concorrentes, nomeadamente memória descritiva, descrição, conceito, ficha técnica, notas biográficas, fotografias, maquetas, portfolio ou outra, sobre a qual fizeram uma leitura atenta.

Seguidamente passaram à apreciação in loco de cada obra implantada ao longo do percurso definido. Posteriormente, procederam à discussão sobre as mesmas, tendo aceite como metodologia que cada um dos membros do Júri atribuísse uma pontuação de 1 a 5 a cada critério, referente a cada obra.

Após tecidas as considerações e atribuída a pontuação, as obras ficaram assim ordenadas: Underwater, de Antonieta Martinho; m+H, de Margarida Esteves; Ambiente suspenso, de Tiago Margaça; O bufo e as três casas, de Inês Ferreira-Norman; Quatro faces da mesma moeda, de Nim Castanheira; Isto não é uma árvore, João Henriques Pires; SOS Planeta – Alerta Azul, Ctadeia e João Leitão; Árvore do mundo, de Evgenia Emets; Phyloscopus bonelli, de Pedro Almeida; Kremastos, de Carlos Barradas.

Findas as considerações de todos os elementos do Júri, este deliberou atribuir a Distinção Bienal de Coruche – Percursos com Arte à obra Underwater, de Antonieta Martinho. O Júri entendeu ainda atribuir duas Menções Honrosas a: m+H, de Margarida Esteves; e Ambiente suspenso, de Tiago Margaça.